Artigo sobre Literatura, publicado originalmente em 2016.
Livros estrangeiros: 10 romances que marcaram época
Para tirar a impressão errada de quem pensa assim, os livros de romance não têm esse nome porque contam histórias de amor. O gênero literário Romance, surgido no início do século XVII, é caracterizado pela narrativa em prosa, normalmente longa, com personagens (muitas vezes complexos) vivenciando conflitos ou situações dramáticas. Os fatos são interligados e acontecem ao longo de um período não necessariamente narrados em ordem cronológica.
Romancistas contemporâneos, tais como Jojo Moyes, John Green e Gillian Flyn, arrastam uma legião de fãs. Mas neste artigo vamos dedicar o espaço aos precursores, autores de obras cujo encantamento é eterno.
1. Dom Quixote de la Mancha
Primeira edição em 1605, um clássico da literatura espanhola que ajudou a firmar o gênero romance. Escrito por Miguel de Cervantes, é considerado por críticos e autores da atualidade como a melhor obra de ficção de todos os tempos.
Dom Quixote, o protagonista, é um fidalgo que vive no mundo da lua de tanto ler romances de cavalaria. Montado em seu cavalo Rocinante e acompanhado de seu fiel amigo Sancho Pança, nosso herói parte para o ataque contra um monstruoso dragão que na realidade é um moinho de vento. Essa e outras cenas surrealistas são motivos mais que suficientes para você embarcar nessa loucura.
2. As Viagens de Gulliver
Neste clássico da literatura inglesa, primeira edição em 1726, o autor Johathan Swift utiliza a técnica da sátira, que ridiculariza determinado tema como forma de intervenção política para gerar uma mudança ou impedir que ela aconteça.
Gulliver, o protagonista, é um médico da marinha inglesa que, depois de sobreviver a um naufrágio, vive aventuras incríveis. No arquipélago formado por Lilliput e Blefuscu, os habitantes extremamente pequenos viviam em guerra por futilidades assim como os nobres franceses e ingleses do século XVIII. Em Brobdingnag, a terra dos gigantes, a sátira é sobre a mediocridade da sociedade inglesa.
No reino de Laputa, o questionamento é em relação à burocracia da administração inglesa na Irlanda e aos métodos dos cientistas da Royal Society, em uma feroz crítica ao pensamento científico sem benefícios para a humanidade. Na última etapa da aventura, Gulliver vai ao país dos Houyhnhm, uma espécie de cavalos superinteligentes, que representavam os ideais da verdade e da razão. Mesmo com seu alto grau de conhecimento, os Houyhnhm temiam os Yahoos, uma espécie imperfeita de humanos que se evoluísse, se tornaria inimiga. A sátira nessa terceira parte do livro é sobre a raça humana.
Depois de considerá-lo um perigo à sua civilização, os Houyhnhm expulsam Gulliver. Novamente ao mar, ele é resgatado por um navio português e volta para casa. Se torna recluso, evita o contato com esposa e filhos, e passa várias horas por dia conversando com seus cavalos. “As Viagens de Gulliver” foi adaptado para o cinema em 2010 com Jack Black no papel principal.
3. Cem Anos de Solidão
Com a primeira edição em 1967, escrito pelo colombiano Gabriel Garcia Marquez, Prêmio Nobel da Literatura em 1982, é considerado um dos livros mais importantes da literatura latino-americana. A narrativa conta a incrível história da família Buendía, fundadora da pequena aldeia de Macondo. Você vai se encantar com elementos fascinantes tais como um comboio carregado de cadáveres, uma população que perdeu a memória, mulheres trancadas por décadas em um local escuro, uma caminhada de vinte e seis meses.
Acompanhe a saga de várias gerações da família Buendía, sua luta contra a realidade e a quase destruição. Pessoas que nascem e morrem, vão embora e voltam, ou permanecem na aldeia até seus últimos dias. Em comum, a solidão que sentem mesmo vivendo em meio a tantas outras pessoas. O livro ganhou várias adaptações ao cinema, incluindo a versão brasileira.
4. E o Vento Levou…
Publicado pela primeira vez em 1936, escrito pela norte-americana Margaret Mitchell, ganhou vários prêmios literários, Pulitlzer, National Book Award e outros. Teve mais de 30 milhões de cópias vendidas e foi traduzido para mais de 30 idiomas.
Seguindo uma ordem cronológica, a história começa em 1861, no sul dos Estados Unidos. Filha mimada de um rico produtor de algodão, Scarlett O’Hara faz de tudo para manter sua propriedade durante o conturbado período da Guerra Civil Americana e da posterior reconstrução do país. Scarlett queria se casar com um de seus muitos admiradores, Ashley Wilkes, mas ele fica noivo de uma prima distante, a jovem Melanie Hamilton. Frustrada, nossa heroína encontra o falastrão Rhett Butler, com quem vive uma das histórias de amor mais célebres e agitadas da literatura mundial.
Outro personagem do livro é a própria guerra civil dos Estados Unidos, que causou mudanças profundas na sociedade e também no estilo de vida de Scarlett. Depois de vencer inúmeras dificuldades, sua última fala – que também é a última frase do livro – é cheia de esperança: “Amanhã é outro dia”.
“E o vento levou…” também foi adaptado para o cinema, em 1939, com Vivien Leigh no papel de Scarlett Scarlett O’Hara e Clark Gable (as mulheres na época suspiravam por ele) no papel de Rhett Butler.
5. Admirável Mundo Novo
Primeira edição em 1932 e escrito pelo inglês Aldous Huxley, segue o pensamento filosófico da distopia. Em um futuro hipotético, a sociedade vive em condições insuportáveis, controlada pelo Estado ou por outros meios de opressão. A base é a sociedade atual, porém projetada em condições extremas no futuro.
Nesse livro delirante a sociedade é dividida por castas, a vida é completamente regida por valores científicos e não existem os valores religiosos e morais que nós seguimos atualmente. As pessoas não fazem sexo e na concepção in vitro todo ser humano recebe uma programação que definirá o seu destino.
As relações afetivas são efêmeras, palavras como “papai” e “mamãe” e são rejeitadas e as inseguranças são camufladas com o consumo de uma droga chamada “soma”. Tal cenário desenhado por Huxley é uma pesada crítica aos governos autoritários do nosso mundo. Ditaduras que podem chegar a um triste fim para a humanidade. Virou filme para o cinema e TV.
6. Os Filhos da Meia-Noite
Primeira edição em 1980, escrito pelo indiano Salman Rushdie, traz uma narrativa de realismo fantástico, que utiliza elementos mágicos como a distorção do tempo para que o presente se repita ou para que se pareça com o passado.
A trama gira em torno de dois bebês nascidos no mesmo hospital em Mumbai, uma cidade indiana. O nascimento foi em 15/08/1947, dia da Independência da Índia até então dominada pelos colonizadores ingleses. Uma enfermeira se confunde e troca Saleem, filho de família pobre, por Shiva, filho de família rica. Assim como todos os bebês indianos nascidos na durante a primeira hora desse dia, o protagonista Saleem tem um poder mágico, no seu caso a telepatia. Ele consegue reconstituir a história de sua família desde 1910 destacando as mudanças políticas e culturais da Índia, que traçam o seu destino e o de Shiva: eles acabam lutando em lados opostos nas batalhas pela independência. A trama gira em torno da união da realidade com o sonho, do inexplicável com a mitologia.
Adaptado para o cinema em 2012, “Os Filhos da Meia-Noite” ganhou o Booker Prize, um consagrado prêmio literário britânico.
7. O Morro dos Ventos Uivantes
Um livro adaptado nove vezes para o cinema incluindo as versões japonesa e mexicana. A primeira filmagem foi em 1939 e a atual versão modernizada de 2012. Também virou série de TV nos Estados Unidos, novela no Brasil e inspirou uma música do rock nacional, da banda Angra. É o único romance da escritora britânica Emily Brontë, publicado pela primeira vez em 1847, um ano antes de sua morte aos 30 anos.
A história com ambiente agitado, sombrio e tenso tem como protagonista o atormentado órfão Heathcliff, apaixonado por Catherine, filha de seu benfeitor. Depois te ter o seu coração partido ele jura vingança contra todos que causaram a separação do casal. Catherine se casa com Edgard e vive cheia de conflitos porque mantém sua paixão por Heathcliff. Ela tem um filho com Edgard, mas infelizmente morre no parto. Revoltado com a notícia da morte de Catherine, Heathcliff se vinga de todos que causaram a separação. O livro teve muitas adaptações para o cinema, algumas fugindo um pouco do roteiro original.
8. O Iluminado
76 obras literárias – 12 livros (sete sob o pseudônimo Richard Bachman), 12 coletâneas de contos e cinco livros de não-ficção. Nono autor mais traduzido do mundo, com mais de 400 milhões de cópias vendidas em mais de 40 países, o escritor americano Stephen King é unanimidade entre os amantes do gênero terror fantástico.
Um romance de horror, O Iluminado foi lançado em 1977 e tem como ponto central a vida de Jack Torrance, um aspirante a escritor e alcoólatra em recuperação. Tal cenário reflete a reabilitação de Stephen King e sua hospedagem no hotel que inspirou o hotel do livro.
Lançado em 1977, O Iluminado é um romance de horror cujo ponto central a vida de Jack Torrance, um aspirante a escritor e alcoólatra em recuperação. Tal cenário reflete a reabilitação de Stephen King e sua hospedagem no hotel que inspirou o hotel do livro.
Jack aceita o emprego de zelador e se muda com sua família – a esposa Wendy e o filho Danny – na baixa temporada do famoso Hotel Overlook, nas montanhas do Colorado, nos Estados Unidos. Danny é “Iluminado” porque tem um conjunto de habilidades psíquicas permitindo-lhe ver o passado tenebroso do hotel. O zelador anterior atirou e matou toda sua família.
Impedidos de sair do hotel por uma tempestade de neve, os Torrance não são os únicos presentes. Forças sobrenaturais começam a enlouquecer Jack, que tenta matar Wendy e Danny. Sem contar o que é, preste atenção a cena final do filme. É de arrepiar!
9. Sherlock Holmes
Criado pelo escritor britânico Sir Arthur Conan Doyle, o icônico personagem de romance policial apareceu pela primeira vez em uma revista inglesa e em alguns livros.
Em livros de romance: Um estudo em vermelho (1887); O signo dos quatro (1890); O Cão dos Baskervilles (1901); O vale do terror (1915).
Em livros de contos: As Aventuras de Sherlock Holmes(1892); Memórias de Sherlock Holmes(1894); O Retorno de Sherlock Holmes (1905); O último adeus de Sherlock Holmes (1917), e Os Arquivos de Sherlock Holmes (1927).
Com 15 adaptações para o cinema, a mais famosa é a trilogia estrelada por Robert Downey Jr., no papel de Sherlock Holmes, e Jude Law, no papel do fiel escudeiro Watson: Sherlock Holmes (2009), Sherlock Holmes 2 – O Jogo de Sombras (2011) e Sherlock Holmes 3 – Um Reinado de Terror (2012). E também séries de TV, incluindo Elementary.
No primeiro volume, o Dr. Watson, ex-médico do exército da Rainha Vitória, vai dividir o aluguel de uma casa com o estranho e misterioso detetive Sherlock Holmes cujo trabalho baseia-se na dedução dos fatos. Um misterioso assassinato, com o corpo da vítima sem sinais de violência, é cometido em circunstâncias completamente desconhecidas. Sherlock passa a ajudar os detetives da Scotland Yard, que identifica o corpo de Enorch Drebber. Ao cheirar o lábio do morto, ele comprova que a causa foi envenenamento.
Seguindo com suas deduções fantásticas, o protagonista desvenda todos os crimes que investiga. Seu bordão é inesquecível: “Elementar, meu caro Watson.”.
10. Água para Elefantes
Terceiro romance da escritora canadense Sara Gruen, conta uma história que começa quando Jacob Jankowski perde sua amada esposa e decide jamais falar sobre seu passado. Aos 90 anos, os filhos o deixam em uma casa de repouso. Sua recorrente falta de memória termina com a chegada de um circo que o faz recordar sobre sua juventude e os melhores e piores momentos de sua vida.
Pouco antes das provas finais da faculdade de veterinária, Jacob é devastado pela morte dos pais quando está com 23 anos. Movido por desespero e angústia ele pula dentro de um trem em movimento, que descobre ser do Esquadrão Voador do Circo Benzini, O Mais Espetacular Show da Terra.
Aceito para cuidar dos animais, sofre com humilhações da maioria dos circenses. Seu conforto é Marlena, a principal estrela, por quem se apaixona perdidamente. Só que ela era esposa do dono do circo. Depois de algumas situações adversas, os dois se casam e têm filhos.
“Água para elefantes” é um livro envolvente em que a autora nos leva a um mundo misterioso e encantador, construído com tamanha riqueza de detalhes. Uma encantadora viagem literária.